Páginas

quinta-feira, 7 de junho de 2012

PSICOTERAPIA NÃO É PARA LOUCO!



Fico estupefata que, mesmo estando no século 21, com uma gama de informações extraordinárias disponíveis, ainda haja tanto preconceito e mal entendido sobre o que seja e para quem seja psicoterapia. Existe ainda grande resistência por parte das pessoas - mesmo por aquelas que buscam sites, livros ou qualquer outro veículo de auto-ajuda - sobre o fato de entrarem num processo de psicoterapia.

O que ocorre comumente é uma pseudo-preocupação, onde a grande ânsia é apenas em tirar a angústia, a ansiedade, o mal estar ou qualquer outro sintoma e não em resolver, efetivamente, o que causa tais sintomas.

Quando sugiro para alguém que seria bom que fizesse psicoterapia sempre vem aquela pergunta: "Você acha?...", juntamente com aquele olhar interrogativo como que completando a pergunta"...que eu preciso?" Como se houvesse na minha indicação alguma insinuação de que a pessoa é louca ou coisa parecida. E devido a esse preconceito a pessoa vai se arrastando pela vida e arrastando as situações em que vive, sem conseguir resolvê-las com eficácia e a seu favor.

Eu até entendo que o que está por trás deste preconceito é o medo do encontro consigo próprio, de encarar-se e, consequentemente, de perceber os seus equívocos e suas ilusões sobre si memso. Sei também que, além disso, a maioria das pessoas não foi educada para se perceber e se levar a sério (a nossa cultura ainda tem dificuldade em olhar uma criança como alguém perceptivo!).

Outro grande problema que impede as pessoas de ir na busca do processo de psicoterapia é a baixa disponibilidade para si próprio - justamente por não se levarem a sério e às suas reais necessidades. É difícil a pessoa colocar-se disponível para si mesmo, pois tem receio de cortar os fios da teia na qual está preso por ter medo de cair num vazio maior no qual já sente estar. Por isso, cria justificativas lógicas e plausíveis (racionalizações) que, na maioria das vezes, a coloca como vítima da própria vida, sem se dar conta da sua cota de responsabilidade sobre a mesma.

Existe por parte das pessoas, de uma forma geral, uma séria dificuldade em entender que psicoterapia é algo que tem como função ajudá-las no processo natural da vida, que é se desenvolver. Então, assim, ainda existe um certo constrangimento quanto ao porque da necessidade da psicoterapia.

Nascemos com um "projeto de vida", que muitas pessoas chamam de "destino". E qual seria este senão o próprio desenvolvimento da consciência e o colaborar no desenvolvimento da nossa própria espécie? Queiramos ou não esses desenvolvimentos acontecem (da consciência e da espécie) da mesma forma que o desenvolvimento físico também se dá. O processo da psicoterapia ajuda no curso natural do desenvolvimento da consciência, elevando-a mais rapidamente e, muitas vezes, além da média; eliminando, dessa forma, o sofrimento e as angústias vividas ao longo da vida.

Isso não significa que não haverão mais problemas, mas, sim, que a pessoa aprende a lançar um novo olhar sobre si e sobre a vida, proporcionando-se satisfatória saúde emocional e boa qualidade de vida.
A psicoterapia é a possibilidade de encontrar-se com seu verdadeiro Eu - que Jung chamou de Self.
É a possibilidade de desmanchar as ilusões e as racionalizações sobre seus comportamentos, além de poder compreender as reais motivações que os geraram.
É a possibilidade de redirecionar positivamente o fluxo de energia da vida - que na maioria das vezes está represado ou canalizado para situações que são negativas ou até mesmo destrutivas e não proporcionam a verdadeira sensação de bem estar e realização pessoal.
É a possibilidade de sair da teia, um emaranhado de fios "de verdades absolutas" estabelecidas (que não o foram, necessariamente, por si próprio e sim, muitas vezes, "herdadas" da família, via educação).

Normalmente, quando essas "verdades" são herdadas e vividas, ou a pessoa segue-as na íntegra, ou faz exatamente o contrário, por assim acreditar que está seguindo o próprio caminho (o que não é verdade, pois os parâmetros continuam sendo os familiares); sobrando a sensação de insatisfação e de vazio constante.

Acredito no trabalho da psicoterapia, justamente porque também já estive do "lado de lá" - no meu próprio processo de psicoterapia - além do meu trabalho como profissional, onde sou testemunha do bem que esse processo de desenvolvimento da autoconsciência promove na qualidade de vida de uma pessoa.

Por isso, acredito que psicoterapia é uma modalidade de processo de autoconhecimento que serve para todos, em larga escala, sem restrição de idade ou crença. A psicoterapia promove ampliação e expansão da consciência sobre si mesmo - elevando o nível de autoconsciência - sobre seu verdadeiro Eu - e, consequentemente, sobre suas reais necessidades e motivações.

Essa ampliação e expansão da consciência levam a um caminho de luz, pois, consciência é exatamente isso: luz. Enquanto que quando vivemos ignorantes de nós mesmos (sem o sabermos!) vivemos nas sombras, se não na própria escuridão; andando pela vida como sonâmbulos, com comportamentos - movimentos, ações e reações?, no automático.

A psicoterapia é o caminho para o desenvolvimento da luz na própria vida, ou seja, serve como canal para que a pessoa descubra dentro de si todo um potencial ainda desconhecido de si mesma e, a partir daí, aplicá-lo na própria vida.

Afinal, só podemos utilizar o que sabemos que temos!
Apenas quando descobrimos nossos potenciais podemos administrar com tranquilidade nossas limitações individuais e nos aproximar de nós, enquanto seres humanos que somos.
Apenas quando dissipamos nossos equívoscos e ilusões sobre nós mesmos é que podemos nos levar a sério e aí, sim, colocamo-nos à nossa disposição - nos tornamos auto-disponíveis e mais abertos para a vida e para as pessoas.
Apenas quando conhecemos nossos recursos (tesouros escondidos!), conseguimos tranquilizar a nossa ansiedade, eliminando o medo do futuro.
Apenas quando pudermos olhar nos nossos olhos - sem medo do que encontraremos no fundo deles - é que conseguiremos viver uma vida mais pessoal e plena, com aplicação adequada dos nossos melhores recursos, proporcionando-nos um real e boa qualidade de vida, impregnada de amor e respeito.
E com isso todos ganhamos: nós mesmos, as pessoas à nossa volta e a própria humanidade, da qual fazemos parte. Então, sob esse prisma, como alguém pode sequer pensar que psicoterapia é "coisa pra louco"??



Texto recebido de uma amiga que vivenciou uma depressão!!!

1 comentário:

A. João Soares disse...

Amiga Celle,

Um bom tema. Realmente seria bom que as pessoas fossem capazes de evitar chegar a tal estado patológico, que fossem capazes de, aos primeiros sintomas, puderem fazer uma auto-análise e ajustassem o seu processo mental. Conhece-te a ti mesmo é um aforismo muito utilizado pelo filósofo grego Sócrates.
Tal como para o atleta que faz saltos, é fundamental o conhecimento do ponto em que se apoia para saltar, em que faz a «chamada», tal como para o planeador é necessário conhecer perfeitamente a situação de partida, de onde começa a escolha de soluções e a programação, também para o bom desempenho de cada um é conveniente sabermos as nossas capacidades, sensibilidades, motivações, etc, e com frequência olharmos para dentro de nós e observarmos se tudo está coerente com aquilo que desejamos de nós.

É erro pensar apenas naquilo que desejamos para nós e que a cada momento nem sempre é lógico e coerente com intenções anteriores, nos conceitos, valores e princípios, depois surgem as lutas dentro de nós e a sujeição a situações conflituosas que nos destroem. É então que a ajuda externa de especialistas é indispensável.

Beijos
João