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segunda-feira, 29 de abril de 2019

GLAUCOMA CAUSA CEGUEIRA

A principal causa de cegueira irreversível, que afeta 100 mil portugueses

Transcrição de artigo publicado em 190429, por Liliana Lopes Monteiro

O glaucoma avança com envelhecimento da população.



© iStock

Estima-se que o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040, segundo projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"O que sabemos é que nos últimos anos tem havido mais casos por causa do envelhecimento da população e por se fazer mais diagnósticos hoje do que no passado", diz Nara Gravina Ogata, especialista em glaucoma infantil e adulto no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em declarações à BBC.

O que é o glaucoma?

Trata-se de uma condição crónica e degenerativa do nervo ótico (estrutura que envia as imagens do olho para o cérebro), normalmente associada ao aumento da pressão intraocular - essa medida indica a tensão no interior do olho e tem valor médio de 16 mmHg, mas até 21 mmHg ainda é considerada como estando dentro do limite da normalidade.
Este provoca um estreitamento do campo visual, fazendo com que a pessoa perca progressivamente a visão periférica. Na maioria dos casos, é assintomático.
"É uma doença muitas vezes silenciosa. Instala-se e vai progredindo lentamente, durante meses ou anos, sem a pessoa perceber. O problema é que, quando recebe o diagnóstico, o nervo ótico costuma estar já muito danificado e a visão periférica extremamente comprometida", afirma Ogata.

Quem é afetado pela doença?

A patologia tem origens variadas, sendo a genética uma das mais relevantes. Para se ter uma ideia, filhos de portadores de glaucoma têm entre seis a 10 vezes mais chance de desenvolvê-lo.
A idade avançada também eleva os riscos. No geral, a incidência aumenta a partir dos 40 anos, chegando a 7,5% aos 80, assim como o uso de colírios com corticóide de forma indiscriminada e sem acompanhamento médico, já que esses produtos podem causar aumento da pressão intraocular.
A atenção ainda deve ser redobrada com diabéticos, cardiopatas, vítimas de trauma ou lesão e em pessoas de etnia africana ou asiática.
A OMS refere que, a prevalência da doença é três vezes maior e a probabilidade de cegueira seis vezes mais elevada em latinos e afrodescendentes em relação aos caucasianos.

Quais são os tipos de glaucoma?
São vários os tipos de glaucoma. O mais comum é o primário de ângulo aberto, que representa cerca de 80% dos diagnósticos. É assintomático e atinge pessoas a partir de 40 anos.
Neste caso, a pressão intraocular sobe lentamente devido ao mau funcionando do ângulo de drenagem do olho, responsável pela saída do líquido ocular (humor aquoso). Geralmente, a perda de visão começa nos extremos do campo visual e, se não for tratada corretamente, acaba por comprometer toda a visão.
O primário de ângulo fechado, com maior incidência em asiáticos e portadores de hipermetropia, ocorre quando o ângulo de saída do humor aquoso é bloqueado, geralmente pela íris, e o fluído não consegue ser drenado.
No geral, provoca aumento súbito da pressão intraocular, e o paciente pode ter dores forte nos olhos e de cabeça e ficar ainda com a visão turva.
O glaucoma congénito dá-se quando a criança nasce com uma má formação no sistema de drenagem do fluído do olho. Os sintomas incluem olhos sem brilho e de coloração azulada, lacrimejamento, fotofobia e aumento do tamanho do globo ocular. Pode se manifestar logo após o nascimento ou na infância.
"Este é um tipo pouco frequente, mas é fundamental o diagnóstico precoce para tratamento imediato", alerta Wilma Lelis Barboza, oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
Outro tipo de glaucoma é o de pressão normal. Diferentemente dos demais, neste ocorre dano ao nervo ótico mesmo sem a elevação da pressão intraocular. As causas são desconhecidas, mas sabe-se que tem uma associação com problemas vasculares.
Há ainda o secundário, desencadeado por fatores externos, como inflamação, trauma e uso de colírios de corticóide por tempo prolongado sem indicação e acompanhamento médico; o pigmentar, causado pela oclusão do ângulo de drenagem do olho por pigmento que solta-se da íris, e o pseudoesfoliativo, provocado pela obstrução do sistema de drenagem do humor aquoso por depósitos fibrilares anormais.

Quais as opções de tratamento?

Uma vez diagnosticado o glaucoma, o tratamento é realizado tendo como base o seu tipo e estágio. Não tem cura, mas, pode sim, ser controlado.
Trata-se de uma doença crónica e progressiva, e o objetivo do tratamento, qualquer que seja, é estabilizá-la, mas não fará com que o paciente recupere a visão perdida.
As terapias são feitas com procedimentos clínicos, cirúrgicos ou a combinação dos dois. No início da doença, normalmente recomenda-se a aplicação diária de colírios específicos.
Em algumas situações também é necessário o uso de laser. As primeiras etapas do glaucoma de ângulo fechado, por exemplo, são realizadas dessa forma. A cirurgia, por sua vez, é indicada em cerca de 10% dos casos e no glaucoma congénito.

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