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PÚBLICO. 12.11.2010 Por Reuters
A acne severa provoca perturbações psicológicos, sobretudo numa idade com grande consciência do corpo
Aqueles que sofrem de acne severa correm mais riscos de tentarem o suicídio, indica um estudo que volta a incendiar o debate sobre os efeitos de alguns medicamentos contra o problema, como o Accutane da Roche. Já vários estudos relacionaram a isotretinoína, o genérico deste fármaco, com pensamentos suicidas mas, desta vez, os cientistas dizem que é a própria doença que pode explicar este risco acrescido.
Cientistas suecos concluíram que os doentes com acne estão mais propensos a tentar o suícidio, mesmo passado um ano depois de concluírem o trantamento com isotretinoína. “A interpretação mais provável é que é o facto de terem acne severa que melhor explica o aumento do risco”, adiantam, embora não excluam que a exposição ao fármaco pode também ter a sua influência.
O Accutane tem tido uma história controversa desde o seu lançamento em 1982. No ano passado, a Roche disse que o deixaria de produzir dada a concorrência com os genéricos. Apesar de ser muito eficaz contra a acne, o fármaco foi associado a complicações no desenvolvimento fetal quando usado na gravidez e é acusado de provocar problemas de saúde mental. Agora está disponível em genérico, produzido em diversas farmacêuticas.
A acne é um problema de pele muito comum, que pode afectar até 80 por cento dos adolescentes. Embora na maioria dos casos seja moderada, os casos mais graves podem desfigurar a pessoa, sobretudo numa idade em que a consciência do corpo assume grande importância.
Os médicos têm recomendado isotretinoína para os casos mais severos mas mostram-se preocupados com os alguns estudos que relacionam o fármaco com depressões e tendências suicidas. Um estudo canadiano, publicado em 2008, sugeria que a substância podia duplicar o risco de depressão. Um outro estudo, desta vez norueguês, publicado este ano, concluiu que a depressão e os pensamentos suicidas estavam duas a três vezes mais presentes em jovens com acne severa do que aqueles que não a tinham, sugerindo que o problema poderia não estar no medicamento.
Com este pano de fundo, Anders Sundstrom e a sua equipa do Instituto Karolinska, na Suécia, investigaram as tentativas de suicídio antes, durante e depois dos tratamentos com isotretinoína para a acne severa. Compilaram dados de 5,756 pessoas a quem tinha sido prescrito o medicamento entre 1980 e 1989 e relacionaram-nos com os dados hospitalares e registos de mortes entre 1980 e 2001.
O estudo, publicado no "British Medical Journal", encontrou 128 doentes que deram entrada no hospital depois de uma tentativa de suicídio e concluiu que o número de tentativas de suicídios aumentava entre um a três anos antes de iniciar o tratamento com isotretinoína. O risco voltava a aumentar seis meses depois de terminar o consumo do medicamento.
A equipa sueca diz que é impossível dizer com toda a certeza se o aumento do risco de suicídio se deve ao impacto da doença ou aos efeitos do medicamento. Sarah Bailey, da universiade de Bath, a quem a Reuters pediu que comentasse o estudo, sublinhou que é fundamental provar cientificamente a forma com a acne pode ter importantes efeitos psicológicos.
O debate sobre os efeitos da isotretinoína continua assim em aberto.
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