Para todos a quem a doença de Alzheimer afecta, alguma ajuda e esperança.
Um dia, tenta ler um livro,
mas não compreende as palavras. Depois, perde-se no seu próprio bairro.
Eventualmente, acabará por não reconhecer as pessoas que ama. O seu
corpo ainda ali está, mas você já não.
A doença de Alzheimer foi identificada pela primeira vez pelo cientista alemão Alois Alzheimer. Hoje em dia, a Organização Mundial de Saúde estima que 18 milhões de pessoas sofram desta doença. Em Portugal, são 90 000.
Espera-se que este número aumente para 34 milhões em 2025.
Terá um enorme impacto na nossa sociedade.
Para
os que estão em risco, ou que já a sofrem, ou que cuidam de quem sofre,
aqui ficam informações e conselhos para ajudar a prevenir, retardar e
lidar com a doença de Alzheimer, bem como informação sobre tratamentos
disponíveis, agora e no futuro.
Como é que sabe se é Alzheimer?Toda a gente pode ter dificuldade, de vez em quando, em lembrar-se do título de um filme antigo ou do nome de um conhecido. Mas os primeiros sintomas de Alzheimer são mais dramáticos do que umas falhas de memória.
As
pessoas com Alzheimer incipiente são incapazes de fazer o que sempre
fizeram, como pagar contas ou contar o dinheiro para uma compra.
O sentido do olfacto frequentemente fica diminuído antes de a doença ser
evidente. No começo, pode fazer as pessoas ficarem desconfiadas
daqueles em quem confiavam. Se você ou alguém importante para si tiver
estes sintomas, vá ao médico.
Normalmente, ele testará a memória com um teste cognitivo-padrão.
Se o paciente achar o teste difícil, o médico provavelmente recomendará
mais testes, incluindo uma imageologia cerebral. Apesar de não ser
ainda muito usada, a análise do fluido espinal é considerada um dos
testes mais fiáveis para a doença. Mede níveis de proteínas envolvidas
na doença e, quando combinada com a imageologia, oferece um diagnóstico
com 85 a 90 por cento de exactidão, diz Kaj Blennow, médico e professor
de Neuroquímica Clínica no Hospital Universitário Sahlgrenska, na
Suécia.
Tratar os sintomasSe o diagnóstico apontar para doença de Alzheimer, há vários medicamentos que tratam os sintomas, incluindo Aricept, Exelon e Mentamine.
Estes medicamentos podem melhorar a memória e o raciocínio
temporariamente, dizem alguns peritos, mas podem não funcionar em todos
os casos.
De acordo com o Prof. Blennow, «o resultado a
longo prazo não é bem conhecido» e a doença provavelmente «ganhará
terreno» no fim. «Não têm nenhum efeito significativo para travar o
progresso da doença», diz Kurt Brunden, responsável pela pesquisa de
medicamentos em doenças neurodegenerativas na Universidade da
Pensilvânia.
O seu médico poderá recomendar exercício. Estudos demonstram que o exercício pode ajudar a desacelerar o progresso da doença, mesmo depois de aparecerem os sintomas. Ou poderá recomendar certos suplementos.
Um estudo recente mostrou que, quando pessoas com problemas cognitivos
moderados tomavam doses elevadas de vitaminas B12 e B6, as vitaminas
«baixavam o ritmo de encolhimento do cérebro ... e também abrandavam o
seu declínio cognitivo por dois anos», diz A. David Smith, reputado
investigador da Universidade de Oxford. Uma nova bebida médica chamada Souvenaid (feita de nutrientes essenciais, incluindo ácidos gordos ómega-3), está actualmente em testes clínicos e espera-se que esteja em breve disponível, mediante receita médica, na Europa e nos EUA.
Após 24 semanas, pessoas com Alzheimer ligeiro que bebiam Souvenaid
conseguiam melhores testes de memória do que aquelas que bebiam um
placebo. Segundo Philip Scheltens, médico e director do Centro
de Alzheimer no Centro Médico da Universidade VU, em Amsterdão, «a
combinação de nutrientes essenciais é melhor do que cada um
isoladamente».
Falhanços na investigação podem conduzir a sucessosOs
cientistas frequentemente aprendem tanto com os seus falhanços como com
os seus sucessos. Ao longo das duas últimas décadas, a maior parte do
desenvolvimento de medicamentos para Alzheimer focou-se em tentar
remover as placas de proteína amiloide dos cérebros das pessoas que
tinham a doença. E a maioria, se não todos, destes medicamentos, de
acordo com a Dra. Wendy Noble, do King’s College, não se revelou muito
eficaz. «A verdade é que ainda não ouvimos falar de nenhum que fosse
benéfico.»
O notável falhanço de encontrar uma vacina
assim apontou os cientistas numa nova direção. Em 2002, os testes
clínicos da vacina tinham parado depois de diversos pacientes terem
morrido devido aos efeitos secundários. Mais de quatro anos depois não
se registaram melhorias cognitivas significativas nos participantes, que
com o tempo morreram com a doença. Mas as autópsias revelaram que dois
pacientes não tinham virtualmente nenhuma placa no cérebro. Por isso,
embora a vacina tivesse eliminado as placas, outra coisa qualquer tinha
continuado a destruir-lhes os cérebros.
A outra coisa parecia ser outra proteína, chamada tau,
que se enrola dentro das células cerebrais. Apesar da ausência de
placas amiloides, «a patologia tau permanecia», acrescenta a Dra. Wendy
Noble.
Os cientistas chegaram a uma surpreendente conclusão: uma vez que os novelos de tau chegam
a um certo nível, o processo de morte de células «pode continuar sem
[placas]», diz John Hardy, professor no Instituto de Neurologia ICL, em
Londres. Por isso, agora sabe-se que há um ponto sem retorno, depois de
eliminar as placas, após o qual não se consegue parar a doença. Ninguém
sabe ainda qual é esse ponto sem retorno. É possível que para deter a
doença de Alzheimer seja necessário usar um medicamento contra as placas
antes de os primeiros sintomas – e dos primeiros novelos – aparecerem.
Isso não significa que não se devam desenvolver medicamentos contra as
placas, mas apenas que combatê-las é parte da resposta. E isso leva-nos
de volta aos medicamentos do futuro, alguns dos quais já estão a ser
desenvolvidos para atacar a tau descontrolada.
Graças
às descobertas recentemente divulgadas sobre como a doença de Alzheimer
se espalha, deverá haver mais companhias farmacêuticas a virarem a sua
atenção para medicamentos dirigidos ao desenvolvimento de novelos de tau.
Mas apenas alguns estão já de facto na calha, e assumindo que um se
mostra seguro e eficaz, deverá levar vários anos a entrar no mercado.
Aqui está o que a Reader’s Digest apurou sobre medicamentos desta
família.
A Epothilona D é semelhante ao agente de
quimioterapia Taxol e foi desenvolvida inicialmente para combater o
cancro, diz Kurt Brunden, da Universidade da Pensilvânia. Ao
contrário do Taxol, a Epothilona D pode entrar no cérebro, e em testes
em ratos a equipa de Brunden descobriu que a Epothilona D «melhora a
perda de memória». De acordo com relatos não confirmados, a Bristol
Myers Squibb está a planear testar a Epothilona D num pequeno grupo de
pacientes com Alzheimer.
A Noscira, uma companhia biofarmacêutica espanhola, está actualmente a testar a sua droga antinovelos de tau, Tideglusib, em 308 pacientes com Alzheimer em 55 hospitais em 5 países europeus.
E o medicamento da companhia canadiana Allon, Davunetide, mostrou-se
prometedor em pequenos estudos de pessoas com ligeiras dificuldades
cognitivas. As proteínas anormais não são a única área de investigação.
Os cientistas podem ainda descobrir outros factores que contribuam para a
perda de memória. Um desses factores pode ser a insulina, que é
essencial para o cérebro funcionar. «A insulina actua quase como um factor de crescimento do cérebro», diz Brunden. Num pequeno estudo em
pessoas com Alzheimer ligeira a moderada, a insulina pareceu travar o
declínio do cérebro.
Estudos recentes sobre epilepsia sugerem uma direcção nova.
Em Fevereiro, neuro-cientistas da UCLA relataram que, ao estimularem eléctrodos implantados nos cérebros de um pequeno grupo de pacientes com
epilepsia, puderam melhorar a memória e a aprendizagem. Um dia, esses dispositivos poderão ser implantados em cérebros de pessoas com sintomas precoces de Alzheimer. Outro estudo mostra que os pensos de nicotina aumentam a capacidade de atenção entre pessoas com dificuldades cognitivas ligeiras. Mês após mês, novos dados juntam peças à solução do puzzle da doença de Alzheimer. E para os doentes há esperança.
fonte: Selecções do Reader`s Digest